Gnooks, o desaforado livreiro artificial

Faz uns dias, uma amiga, a editora e blogueira Julia Michaels, postou no Facebook o link para essa página, Gnod. Segundo seu criador, Marek Gibney, trata-se de um “experimento de inteligência artificial”, que aperfeiçoa a sua base de dados — em literatura, música e cinema — quanto mais informação recebe dos internautas. Aprende, por assim dizer. No Gnooks (de livros), por exemplo, o leitor escreve o nome de três autores de que gosta, e o programa devolve um quarto como sugestão de leitura, escolhido por afinidade com os fornecidos — sempre de acordo com as informações de que dispõe naquele momento.

Fui conferir. Só para chatear, inseri Bocage, Laurence Sterne e Philip Roth, para ver que bicho dava. E vou dizer que o programa deve ter mesmo algum tipo de inteligência — malévola — pois se vingou de mim recomendando de cara um autor que nunca li, o viajante inglês Redmond O’Hanlon.

Logo abaixo do nome, podia clicar em uma de três opções: A) gosto B) não gosto C) não conheço. Miseravelmente, cliquei em C, e recebi novas sugestões, às quais, feito um rato de laboratório, fui reagindo: Virginia Woolf (A), Doug Copeland (C de novo!), Gabriel Garcia Márquez (A, maravilha, mas estou ficando confuso), Jonathan Safran Foer (A, mas posso fazer umas ressalvas?), Iva Pekárková (mais um humilhante C), Susan Juby (outro C, ele não se convenceu de que sou ruim de canadenses contemporâneos), Ryszard Kapuściński (C, mas agora estou achando que tem um cara do lado de lá me sacaneando), Miguel de Cervantes (A, ufa), Rabelais (A, e agora sim eu vejo um sentido mínimo com os três nomes por mim fornecidos), Leon Tolstói (A, de novo com certo sentido) e Molière (A, para encerrar). Depois disso, dei um feedback final, com medo de o programa ter me achado meio burro. No fim, pelo menos, ele admite que não conhecia Manuel Maria Barbosa du Bocage. Prometeu se informar.

É supostamente com base nesse aprendizado que o programa cria “nuvens de escritores”, como a mostrada acima (clique na imagem para ampliar). Ali, o internauta fornece o nome de um autor e, em torno dele, os que lhe têm maior afinidade — quanto mais próximo, mais chance o leitor do primeiro tem de gostar. Variei, inserindo Jorge Luis Borges. Mesmo identificando de pronto algumas falhas (hei de me vingar…), gostei de ver por perto os nomes de Italo Calvino, Julio Cortázar (se repararem, há repetições, porque os bípedes humanos inserem grafias diferentes), T.S. Eliot, Salman Rushdie e até mesmo José Saramago. E ficou bem aquele Umberto Eco lá no alto, olhando tudo — eu diria — com certa ironia. Mas é claro que o software não chega aí. A não ser que tenha mesmo um cara do outro lado me sacaneando.

Depois volto relatando meu embate com o Gnoosic (música) e o Gnoovies (cinema). Enquanto isso, vá lá e veja se você se sai melhor com o desaforado livreiro artificial.

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